Lá vem o pato, pata aqui, pata acolá...

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"Era uma vez uma pata que colocou vários ovos. Destes ovos nasceram lindos patinhos, com exceção de um, que não era só feio, mas era maior e mais desengonçado que os outros. Então, seus irmãos, o apelidaram de patinho feio. Ele não conseguia se encaixar naquela família e ele ficava cada vez mais infeliz. Quando cresceu, e ficou jovem, ele resolveu fugir de casa. Então, em uma noite, pegou suas trouxinhas e foi embora. Ele chegou perto de um lago onde existiam vários cisnes, e então ele ficava imaginando como seria bom se ele fosse bonitos como eles. Foi quando ele viu sua imagem refletida no lago. Ele era um deles. Finalmente ele havia se encontrando: ele não era um patinho feio, mas sim um lindo cisne."
 

Sim, a história do Patinho Feio. Uma das tantas histórias que permearam minha infância, mas, sem dúvida, a que mais me chamava atenção. Isso porque eu me sentia o próprio patinho feio. Diferente de todos. A peça que não se encaixava, e que cada vez mais se recolhia.  O próprio “patinho feio”!
 

Sempre que me imaginava uma super heroína, dessas da histórias em quadrinhos, meu super poder era sempre o mesmo: a invisibilidade. Uma vontade danada de ser invisível! Para salvar o mundo? Não. Para salvar a mim mesmo. Ao menos era o que eu imaginava. Pensava que se fosse invisível ninguém poderia fazer piada, rir, debochar de mim. Paz. Era só esse meu desejo.
 

Com o tempo, não sei bem por que, mas fui tomando coragem de sair da casca, ou talvez, da "capa de invisibilidade”. Doeu. Dói. Para muitos, introspecção é um defeito grave. Para mim foi só um mecanismo de defesa que se desenvolveu com o tempo.
 

“Quem não é visto não é lembrado!”, muitas vezes me disseram, ao perceber minha quietude. Aquilo deveria ser entendido como uma espécie de ameaça. Só que não. Na maioria das vezes, eu não queria mesmos ser notada. Mas dizer isso seria uma loucura. Quem não iria querer ser notado? EU! O patinho feio.
 

Cresci. Virei cisne. Ganhei confiança. Mas o patinho feio nunca foi embora, e por muito tempo isso me intrigou. Por que depois de uma vida de realizações, de conquistas e reconhecimentos, o tal patinho feio continuava lá? Haviam épocas em que ele permanecia num estado de dormência, mas nunca se foi. A sensação de rejeição, de inferioridade... por mais que todas as evidencias fossem opostas, o sentimento permanecia.  

 
Hoje, eu e meu patinho feio vivemos, na maioria do tempo, em harmonia. Desisti de tentar expulsá-lo. Ele é parte de mim. E isso não quer dizer que eu tenha me resignado a uma situação de inferioridade, mas sim que finalmente eu entendi que nós precisamos coexistir. Passei a respeitar essa vontade de me isolar às vezes, de não agradar aos outros, de ser simplesmente o que eu sou. E se isso é estranho, se o “normal” é querer estar em evidência, sinto muito. O “normal” não me serve. Não sou cisne, não sou pato. Sou só eu. E isso basta. Basta pra nós dois: meu patinho feio e eu.  

 

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