Tá Tudo Bem Mesmo?
Existe
um exercício, amplamente utilizado para explorar questões mal resolvidas do
passado, onde se sugere que o nosso eu do agora (momento presente), encontre
com a criança que fomos um dia. Particularmente, sempre simpatizei com essa
técnica e, muitas vezes, apliquei inclusive durante as sessões guiadas de
meditação. Muitas questões e insights já sugiram. Escutei diversos relatos
sobre cheiros, gostos e sensações emotivas despertadas durante as sessões. Remorsos,
mágoas, alegrias, saudades..., mas nunca nada parecido com os relatos transcritos
nos comentários de uma post, de uma página de humor.
O que
aconteceu foi que ao invés de despertar o senso de humor nos seguidores, esse
post se transformou num gatilho para o relato de diversos “avisos” para suas
crianças do passado. E não eram avisos do tipo “se alimente melhor”, “estude
mais”, “conviva mais com seus pais”... Eram alertas do perigo eminente
personificado em vizinhos, parentes, pais de amigos, “amigos”... Eram desabafos
sobre momentos que mudaram a vida deles para sempre. Aquelas pessoas gostariam de poder avisar a si
mesmos para fugir de seus algozes.
Não
irei reproduzir os relatos aqui, não por serem muitos, mas por serem fortes demais.
A própria página colocou um alerta para a natureza dos relatos. É preciso
considerar que histórias desse tipo podem desencadear reações danosas à saúde emocional,
mesmo de quem não tenham vivido esse tipo de situação.
Essa
situação, não planejada, que acabou por desencadear sofrimentos, não do
passado, mas do presente, que acompanham e acompanharão essas pessoas para o
resto das suas vidas. A memória do abuso é muito forte, e precisa de tratamento
adequado. Precisa de escuta ativa, que é aquela que acolhe, que alenta, que
orienta.
Quem
de nós também não precisa desse acolhimento, mesmo não tendo passado por
situações limítrofes? Muitas vezes, mas muitas mesmo, o que nos limita, nos
amedronta, nos entristece, mora dentro das nossas mentes. Sejam memórias de
abuso ou uma “configuração” autodestrutiva. E é por isso que cuidar de si mesmo
não se trata simplesmente dar atenção à saúde física ou estética. É preciso
entender o nosso funcionamento. O que nos limita? Quais são a nossas forças? De
quem costumamos nos aproximar ou se somos solitários demais. Temos a quem pedir
ajuda ou nossa rede de amigos é puramente virtual? Sabemos pedir ajuda? Sabemos
ajudar?
Viver
não se trata simplesmente de atender nossas necessidades básicas, ou de
acumular tralhas, nem de alimentar relações ruins. Viver é entender o que nos
convém e que, ao mesmo tempo, não prejudica ninguém. É saber onde estão os
abraços que precisamos. É sofrer quando é preciso. É vencer as batalhas que nos
acrescentam. Não vai ser sempre fácil e nem sempre difícil. Pode ser terrível
em certas horas e incrível em outras. Mas não desista! Insista, peça ajuda.
Tente, tente e tente mais uma vez. E nunca se esqueça: use filtro solar.
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